Caras Brazil
No saguão do hotel ouve-se um “boa tarde” sem um pingo de sotaque. É preciso olhar duas vezes para ter certeza que a loira de olhos azuis, alta e sorridente é de fato russa. Também são necessários alguns minutos para crer que a moça que fala apaixonadamente sobre meditação, yoga e os benefícios da dieta vegetariana é uma das profissionais mais bem pagas do mundo. Segundo o ranking do site Models.com, Valentina Zelyaeva (31) é dona do 10º maior salário entre as modelos do mundo. Mas ela é cheia de surpresas, como as matryoshka, as tradicionais bonecas da Rússia que são colocadas umas dentro das outras, da maior para a menor, e vão ficando cada vez mais delicadas à medida que você as abre.
Filha de um militar que, segundo ela, fazia tudo que a filha queria, Valentina nasceu na Sibéria, quase na fronteira com a Mongólia. Depois, mudou-se para Moscou e São Petesburgo, acompanhando o pai à medida que ele era transferido. Para os padrões da moda, foi descoberta tarde, já com quase 17 anos. Ela caminhava para a faculdade quando um agente de modelos a convidou para um teste. Com 18 anos, deixou o país natal rumo ao Japão. Passados dois anos, foi para Nova York, até chegar às passarelas internacionais e principais campanhas das grandes marcas. Há mais de dez anos Valentina é o rosto oficial da Ralph Lauren no mundo. A explicação para falar português? Ouvir muita música sertaneja e pagode. Mas, principalmente, o brasileiro Luis Borges (38), ex-modelo e empresário com quem namora há quase dez anos.
– Você namora um brasileiro. Como aconteceu o encontro?
– Eu estava em Miami fotografando uma campanha. Por alguma razão decidi sair naquela noite. Fui a uma casa noturna e amigos em comum nos apresentaram. Eu estava saindo de um relacionamento, mas logo que o conheci nos demos tão bem e começamos a namorar. Na época, ele era modelo. Hoje, não trabalha mais como modelo e administra uma universidade em Florianópolis.
– O que mudou na relação nestes nove anos?
– A cada dia fica melhor. Viajo muito, trabalhamos bastante, mas ele me entende. Ele foi modelo, isso ajuda. Sabe como são as viagens e a rotina. O fato de ele entender do mundo da moda torna a relação mais forte. Também é a melhor pessoa do mundo e dá os melhores conselhos.
– E onde vocês moram?
– Fico em NY. Mas viajamos bastante para Miami, onde temos casa. E ele vem muito ao Brasil.
– Filhos estão nos planos?
– Não achamos que seja a hora de ter filhos, mas em três ou quatro anos, certamente. Gostaria de ter dois e adotar um terceiro.
– Como aprendeu português?
– Amo sertanejo e pagode. Gusttavo Lima, Michel Teló, Grupo Bom Gosto. Também adoro as músicas da Ivete Sangalo. E comecei a ler livros em português.
– Você tem um blog com dicas de saúde. Qual é a pergunta mais frequente?
– As pessoas me perguntam como podem parar de comer doces e açúcar em geral. Eu como muitas frutas. Elas têm um açúcar natural. O segredo é ingerir coisas saudáveis e comer devagar. As frutas são um exemplo disso. Também faço yoga. No começo, a genética é suficiente para modelo, mas, com o tempo, é preciso se preparar. E também faço meditação.
– Como avalia o Brasil?
– Já estive diversas vezes no Brasil. Amo o País. Quando desço no aeroporto, me sinto em casa. Gosto das pessoas, da cultura. Tenho a impressão de que as pessoas são tão livres aqui, aproveitam a vida. Admiro isso.
– Alguns anos atrás houve um protesto em Milão contra modelos magras. Você era uma das que tentaram impedir de desfilar. Como avalia a questão hoje?
– A moda está mudando. Os ensaios estão adotando a ideia da mulher saudável, não apenas magra. Imagino que, quando uma mulher compra uma revista ou vê uma roupa, ela goste de ver aquilo em outra, não em uma garota magra de 15 anos. Fico feliz em ver essa atitude, mas a questão da idade ainda é mais relevante. Modelos não deveriam começar a trabalhar antes de terminar a escola. Acho que 17 anos ou 18 seria a idade ideal.
– Por quê?
– Comecei a trabalhar em Moscou com 16 anos, mas era algo mais amador, para entender o mercado, aprendendo a desfilar. Com 18 anos, fui para o Japão. E foi muito difícil. Eu não falava inglês e não esperava ser rejeitada e criticada todo dia. É difícil, ficava chocada. Principalmente porque levava tudo para o lado pessoal. Imagine isso se eu tivesse 15 ou 16 anos. A lição foi aprender a não tentar agradar a todos. Ficar feliz comigo mesma é o suficiente.